Levantamento da Liberum Ratings junto a 186 fundos, e R$ 13 bi de PL, evidencia atrasos de 5,17% em vencimentos de 30 dias e de 3,92% nos de 60 dias

Mesmo num cenário de juro alto no Brasil, sem horizonte de baixa no curto prazo, uma amostra de 186 Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) mantêm baixa inadimplência – e devem seguir assim, exceto se algo disruptivo ocorrer. Estudo elaborado a pedido da Capital Aberto pela Liberum Ratings, especializada no monitoramento desse tipo de fundo, indica atraso médio inferior a 5% em títulos com diferentes vencimentos, seja em 30, 60, 90 e 180 dias.
O grupo monitorado soma cerca de R$ 13 bilhões em patrimônio líquido (PL) e reúne diferentes tipos de lastros. Para Décio Bapttista, sócio da Liberum Ratings, a tendência é de pouca mudança nos ponteiros da inadimplência de FIDCs nos próximos meses devido, sobretudo, à estrutura operacional desse tipo de veículo.
“Muda só se houver algum fator exógeno, como uma crise externa em algum outro país, para reverter esse quadro”, disse. Sua leitura já aborda as turbulências geopolíticas atuais e as do mercado interno brasileiro. O atraso nos títulos, segundo o material, vem caindo paulatinamente desde janeiro.
Em dívidas com vencimento em 30 dias, a taxa média de inadimplência em abril foi de 5,17% do total de PL; nas de 60 dias, 3,92%; e, no que diz respeito aos próximos prazos de vencimento, são ainda menores. Em janeiro, as fatias eram um pouco mais elevadas – 5,65% (30 dias), 4,67% (60 dias), mas ainda o patamar é considerado baixo, disse o especialista. Sobretudo porque os fundos fazem provisão para evitar “buracos”, lembra.
Se observado um período de tempo um pouco mais longo, a curva da inadimplência cedeu um pouco mais. Em 2023, na amostra similar de fundos, a inadimplência média nos mesmos vencimentos chegava a 9,54% (30 dias) e 8,44% (60 dias) em setembro daquele ano. O levantamento elaborado considerou dados de, no máximo, dois anos antes.
A queda na curva de atraso é referente ao movimento em uma amostra específica de fundos. Mas como os FIDCs funcionam de maneira similar, o retrato pode servir para observar o modus operandi do segmento. Se o mercado brasileiro vem ganhando regras, e as estruturas no mercado de capitais apostam em ampliar a governança, parte da explicação para a baixa está ligada ao reforço nos controles desses fundos.
O economista chefe da Liberum, Ulisses Dedonato, diz que os critérios de exigibilidade dos consultores de FIDCs para fazer a seleção dos ativos vêm crescendo em anos recentes. Desse modo, mesmo que o crédito seja “mais barato” do que num banco – e esses fundos vêm se tornando cada vez mais uma importante alternativa para médias empresas –, não é todo perfil de companhia que é selecionado.
Um FIDC tem larga esteira de processos, que engloba a análise seletiva por comitês de créditos. “Existe um critério de selecionar melhores perfis [de empresas que levantam crédito, por exemplo] pensando na parte de mitigar riscos, a qual engloba inadimplência”, reitera Dedonato. “Não é que simplesmente um FIDC vai distribuindo crédito para todo mundo.”
A Liberum tem como uma de suas atividades validar as políticas de concessão de crédito nesse tipo de fundo, por isso conhece os detalhes da operacionalização.
Com a alta dos juros básicos desde setembro passado, o movimento de buscar crédito em FIDCs se intensificou. É alternativa “menos cara” do que as linhas tradicionais, dizem as fontes. Ademais, pode ser mais célere, já que os bancos costumam apertar os cintos e elevar ainda mais critérios para liberar recursos em momentos econômicos como o atual.
Bapttista conta que a cada ponto percentual de elevação da Selic corresponde à alta de 0,12 ponto para levantar crédito junto a um FIDC, ou seja, o crédito encarece menos. Nos bancos é mais alto. Houve ainda uma “explosão” de fundos com o perfil no país em anos recentes, e é um mercado competitivo.
Para se ter ideia, um mesmo FIDC pode ter 1.400 sacados e 350 cedentes, segundo a Liberum. Parte do sucesso nessas operações é justamente a pulverização, já que mitiga riscos.
Se na ponta de juros é dinheiro menos caro para empresas, o produto da moda no universo financeiro tem entregado resultados atraentes para o investidor. Entre os meses de março de 2023 e de 2025, os FIDCs tiveram ganho superior à do CDI (26,35%) e do Ibovespa (32,57%) no mesmo período. Se observadas cotas subordinadas, com maior risco, a rentabilidade foi de 64% em dois anos – o dobro da bolsa e duas vezes e meia a do CDI. Os dados são também da Liberum Ratings.
Embora com três níveis de cotas (sênior e subordinadas júnior e mezanino), contudo, há risco. Bapttista diz que a estrutura do fundo precisa ser observada com lupa antes mesmo do tipo de ativo que ele abriga. Ele sugere observar o desempenho da cota júnior para decidir alocação.
É que é a mais arriscada, já que banca as perdas antes de todo mundo, e precisa estar “extrapolando o ganho”. Isso mostra se a estrutura é saudável ou não.
IOF e efeitos nos fundos
Uma questão levantada recentemente é a incidência de alíquota de 0,38% de IOF sobre a aquisição primária de cotas nesses fundos, antes isentos. A Medida Provisória (MP) do governo federal será votada em regime de urgência no Congresso. Ainda assim, gestores de FIDCs afirmam que a mudança não vai tirar o brilho do veículo.
João Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto, disse à Capital Aberto na semana passada que, proporcionalmente à tributação de outros ativos abarcados pela MP, o FIDC foi um dos menos afetados. “Tiveram outros até piores, então, comparativamente, este instrumento ainda mantém uma vantagem”, opina.
A MP também ampliou a cobrança de Imposto de Renda (IR) dos investidores – no caso de quem aloca em fundos sai de 15% para 17,5%. Tampouco tira o apetite de investidores, opinaram Bapttista, da Liberum, e o gestor Bruno Amadei, da Cultinvest Asset Management, que também atua no universo desses fundos.
Fonte: https://capitalaberto.com.br/mercados/inadimplencia-de-fidcs-na-casa-de-5-deve-permanecer-baixa/

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