Desde novembro de 2024, a captação dos fundos de infraestrutura vinha caindo sistematicamente, de R$ 11,7 bilhões em outubro para R$ 5,7 bilhões, depois para R$ 2,7 bilhões em dezembro

Os fundos de infraestrutura tiveram em janeiro captação líquida negativa de R$ 30 milhões, a primeira desde maio de 2023 (R$ 100 milhões no vermelho), durante a crise gerada pela descoberta do rombo da Americanas, mostra o mais recente relatório mensal de crédito da área de pesquisa do banco ABC Brasil.
Desde novembro de 2024, a captação dos fundos de infraestrutura vinha caindo sistematicamente, de R$ 11,7 bilhões em outubro para R$ 5,7 bilhões, depois para R$ 2,7 bilhões em dezembro.
Já os fundos de crédito privado voltaram a registrar entradas líquidas no mês passado, depois de dois meses no negativo (R$ 13,7 bilhões em novembro e R$ 28 bilhões em dezembro): em janeiro, as aplicações superaram os resgates em R$ 11,2 bilhões.
O relatório, assinado por Roberto Dumke, chefe de pesquisa do ABC Brasil, destaca que os fundos que mais receberam aportes no mês passado foram os que têm baixa exposição a crédito e alta liquidez.
Segundo ele, os últimos meses no mercado de crédito foram de ajustes nos prêmios de risco dos papéis, diante da perspectiva de juros mais altos. “Essa reprecificação afetou a performance dos fundos em dezembro, e isso trouxe efeitos na captação líquida de recursos nos últimos meses. Agora, vemos que a reprecificação perdeu fôlego, o que pode dar espaço para novos fluxos para o crédito privado.”

No mercado de papéis corrigidos pelo CDI, os prêmios de risco (ou spreads, no jargão do mercado) continuaram em tendência de aumento e foram de 234 pontos-base para 274, “resultado da perspectiva de alta da Selic, que aumenta o risco dos papéis indexados ao CDI”, diz o relatório.
Já em IPCA, os spreads subiram de 28 para 35 pontos-base em janeiro e, para Dumke, o espaço para uma elevação maior “parece limitado, visto que os fundos que captaram durante o ano passado ainda precisam atingir um percentual mínimo de alocação em infra.”
No mercado primário, o volume de ofertas foi de R$ 41 bilhões em janeiro, o que corresponde a menos de 50% do volume do mês anterior, e o percentual distribuído a mercado caiu de 54% para 46%.
No entanto, na comparação com janeiro de 2024, quando as captações somaram R$ 18,8 bilhões, o montante corresponde a mais que o dobro. Como em dezembro de 2023 o volume havia sido de R$ 64 bilhões, Dumke afirma que o recuo foi “uma ressaca parecida com a que vimos no ano passado.”
No secundário, porém, as negociações somaram R$ 63,6 bilhões, mantendo o crescimento visto desde outubro, quando foi de R$ 57 bilhões. Conforme o relatório do ABC, as debêntures não incentivadas negociaram R$ 37,8 bilhões e os papéis incentivados negociaram cerca de R$ 25,8 bilhões.
O ABC Brasil acompanha 2.062 fundos de crédito privado, com R$ 2,31 trilhões de patrimônio líquido, e 1.139 de infra, que somam R$ 162,6 bilhões.
