FIDC: quando a ‘alternativa’ se torna a regra

Mercado de capitais tem absorvido demanda por financiamento que bancos não conseguem suprir, e renda fixa assume papel de destaque para apoiar empresas de diferentes portes e setores Ao explicar a um público leigo que uma empresa pode financiar as suas atividades fora do sistema bancário usando um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC),…

Mercado de capitais tem absorvido demanda por financiamento que bancos não conseguem suprir, e renda fixa assume papel de destaque para apoiar empresas de diferentes portes e setores

Ao explicar a um público leigo que uma empresa pode financiar as suas atividades fora do sistema bancário usando um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), é comum descrevê-lo como uma “alternativa” para captação de recursos. Da mesma forma, ao apresentar o FIDC como opção de investimento, é recorrente classificá-lo como uma “alternativa” para diversificação dentro da renda fixa.

Entretanto, a frequência das notícias sobre a crescente relevância dos FIDCs para financiamento no Brasil – incluindo um expressivo aumento no patrimônio líquido da categoria, que já ultrapassa meio trilhão de reais – e sobre o crescimento na captação de novos fundos de FIDCs voltados ao investidor de varejo indicam que esse mercado tem um futuro promissor. Diante desse contexto, surge a questão: será que a “alternativa” dos FIDCs não está se tornando a regra?

O mercado de capitais, de forma ampla, tem absorvido a demanda por financiamento que os bancos não conseguem suprir. Embora o mercado público de ações esteja estagnado, com escassez de IPOs, e os setores de private equity e venture capital ainda apresentem hesitação, a renda fixa – incluindo debêntures e FIDCs – tem assumido um papel de destaque para financiar empresas de diferentes portes e setores.

Dados da Anbima mostram que, até setembro deste ano, os FIDCs lideraram em número de operações, com 625 novos produtos estruturados, representando 31,6% das operações no mercado. Em volume, foram o segundo meio mais utilizado por empresas brasileiras para captar capital, com emissões que totalizam R$ 48,2 bilhões – superando em 16,3% o total de 2023. Segundo a Anbima, o “baixo volume médio por operação (R$ 79,1 milhões)” sinaliza que empresas de menor porte também estão acessando o mercado de capitais.

A alta quantidade de operações, em volumes menores, reflete a capacidade dos FIDCs de atender a empresas de todos os tamanhos. Esse é um dos principais diferenciais dos FIDCs em relação às debêntures, que lideram em volume de emissões no período, com R$ 315 bilhões. Por exemplo, para empresas que não têm porte para um FIDC exclusivo, pode-se usar a estratégia de “warehouse”. Trata-se de um “FIDC coletivo”, em que diversas empresas participam, viabilizando a operação e repartindo custos.

Na estruturação de um FIDC, cada caso é avaliado individualmente. Embora envolva tecnologia de ponta, como “machine learning” e inteligência artificial, uma característica essencial dos FIDCs é o fator humano. A melhor forma de um líder empresarial entender como um FIDC pode atender às suas necessidades é conversando com um estruturador experiente, que considerará o tipo de crédito a ser oferecido, o histórico de inadimplência da carteira, as taxas de juros praticadas e as competências de quem originará ou cederá os créditos.

Com essas informações, o estruturador modela o fundo, determinando os níveis de concentração e subordinação necessários para garantir proteção aos investidores, por exemplo. Em seguida, são contratados prestadores de serviço (gestor, administrador e custodiante) para operacionalizar o fundo, desde a elaboração do regulamento até o monitoramento de riscos.

Embora pareçam complexas, essas etapas garantem a segurança para todas as partes envolvidas. Gradualmente, o mercado percebe que o FIDC é acessível e estratégico. Existe uma ideia generalizada de que as operações bancárias são mais baratas e ágeis. Isso não é verdade em todos os casos. A imagem lhes é conferida pela confiança do senso comum. Os FIDCs vão conquistando progressivamente essa mesma firmeza pela prática, por meio de sua utilização cada vez mais frequente.

Com o apoio da Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que ampliou o público investidor do FIDC para incluir todos os perfis, o mercado está propenso a um círculo virtuoso: maior demanda pelo FIDC, maior confiança dos investidores, aumento do conhecimento sobre esses fundos e, por consequência, crescimento do FIDC como fonte de “funding”.

Esse cenário favorece a formação de fundos de qualidade e atrai investidores e tomadores de crédito de diferentes perfis, o que fortalece o nosso mercado.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/coluna/fidc-quando-a-alternativa-se-torna-a-regra.ghtml

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