Pequenas gestoras de recursos que conseguem inovar e se especializar têm espaço para crescer
A indústria de gestão de recursos no Brasil passa por uma transformação significativa, marcada pelo aumento expressivo no número de gestoras e no volume sob gestão. Desde 2020, o número de gestoras saltou de 688 para 1.017, uma expansão de 48%, enquanto o patrimônio líquido cresceu de R$ 5,4 trilhões para mais de R$ 9,1 trilhões, uma alta de 69%. À primeira vista, esses números podem sugerir um mercado mais inclusivo e dinâmico. No entanto, o aumento da concentração revela uma realidade distinta. As dez maiores gestoras, que no ano de 2020 controlavam cerca de 60% dos recursos, passaram a concentrar mais de 65% do volume total em 2025. Em vez de promover a pulverização, o crescimento reforçou o domínio dos grandes players, tornando o ambiente ainda mais desafiador para as novas gestoras.
Esse fenômeno se explica principalmente pela lógica de escala: à medida que o patrimônio cresce, as margens operacionais se tornam mais robustas e o poder de negociação com distribuidores aumenta. As novas gestoras, por outro lado, enfrentam barreiras para escalar suas operações, especialmente em um cenário econômico marcado por juros elevados. Desde 2021, a taxa Selic alta atraiu investidores para produtos de renda fixa tradicionais, diminuindo o apelo de fundos de maior volatilidade, como ações e multimercados. Além disso, a demanda crescente por produtos estruturados e estratégias ESG impôs às assets menores o desafio de inovar e se adaptar rapidamente.
Outro fator que dificulta a consolidação das novas gestoras é a escassez de profissionais qualificados. O crescimento do setor intensificou a busca por especialistas em gestão de risco, análise quantitativa e estratégias ESG. No entanto, a oferta de talentos não acompanhou o ritmo do mercado, aumentando a competição por perfis especializados. Para as gestoras pequenas, com recursos financeiros mais restritos, essa disputa acirrada dificulta a contratação e retenção dos melhores profissionais. Como resultado, muitas optam por equipes mais enxutas, mas isso pode comprometer a capacidade de inovar e oferecer produtos diferenciados.
Além disso, a concentração no topo contrasta com a fragmentação na base. Atualmente, cerca de meta de das assets em operação no Brasil possui patrimônio sob gestão inferior a R$ 500 milhões. Essa realidade destaca a dificuldade de escalar negócios em um setor que continua fortemente concentrado. As grandes gestoras mantêm sua posição dominante, enquanto as menores se dividem em uma grande quantidade de pequenas operações, dificultando a conquista de participação relevante.
Outro obstáculo relevante para as pequenas assets está relacionado ao ambiente regulatório. A Resolução CVM 175 consolidou o arcabouço regulatório dos fundos de investimento, trazendo novas responsabilidades aos gestores, como a contratação de serviços e a realização de testes de estresse. Apesar de promover avanços na governança, a norma impõe desafios adicionais às gestoras menores, que precisam garantir o cumprimento dessas exigências mesmo com estruturas enxutas e equipes limitadas.
Para sobreviver e prosperar nesse contexto, as pequenas gestoras precisam adotar estratégias focadas em nichos específicos e desenvolver produtos altamente especializados que atendam a demandas ainda pouco exploradas. Investir na capacitação contínua das equipes e na busca por expertise técnica é essencial para se diferenciar. A gestão ativa e o foco em fundos com abordagem ESG são alternativas que podem agregar valor ao investidor, fortalecendo o posicionamento no mercado.
Além disso, o fortalecimento da governança e o rigor no cumprimento das normas de compliance são elementos que aumentam a credibilidade, principalmente em um mercado cada vez mais regulado e exigente. Parcerias estratégicas com distribuidores e instituições financeiras ampliam o alcance comercial sem comprometer a sustentabilidade financeira. A adoção de tecnologias que otimizem processos internos, como plataformas digitais para análise de risco e atendimento ao cliente, pode melhorar a eficiência operacional e reduzir custos.
Embora as dificuldades sejam evidentes, as pequenas gestoras que conseguem inovar e se especializar têm espaço para crescer. A diferenciação por meio de estratégias inovadoras, governança robusta e uso inteligente de tecnologia são diferenciais que podem garantir a sobrevivência em um mercado que, embora esteja em expansão, permanece concentrado nas mãos de poucos grandes players. O sucesso nesse cenário exige gestão eficiente, visão estratégica e uma leitura clara das demandas dos investidores, que continuam a buscar segurança e estabilidade em um ambiente macroeconômico desafiador.
Fonte: https://valor.globo.com/financas/coluna/desafio-das-assets-em-um-mercado-concentrado.ghtml

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