Com uma possível desaceleração da economia adiante, o investidor precisa ser seletivo
Por Adriana Cotias — De São Paulo 01/08/2025 05h01 Atualizado há 2 dias

Com a percepção de que o juro vai ficar alto por mais tempo, após o Comitê de Política Monetária (Copom) interromper o seu ciclo de aperto e manter a Selic em 15% ao ano, o crédito privado pós-fixado segue como uma classe atraente. Mas, com uma possível desaceleração da economia adiante, o investidor precisa ser seletivo.
“As debêntures incentivadas têm um atrativo adicional com a potencial mudança na tributação”, diz Ana Rodela, executiva-chefe de investimentos (CIO) da Bradesco Asset Management, referindo-se à proposta do governo de taxar em 5% os títulos que hoje são isentos de imposto de renda para a pessoa física a partir de 2026. “Se a MP [Medida Provisória] 1.303 passar como está, a melhor decisão para o investidor que quer se beneficiar da isenção da debênture é alocar num fundo que, na regra de hoje, vai seguir isento para sempre.”
Por mais que os spreads – a diferença ante os títulos públicos de referência – estejam baixos, na média, esses papéis estão assegurando CDI mais 2% e isentos. “Enquanto não resgatar, o investidor fica nesse regime”, diz Rodela. E, se a MP for aprovada, os 5% vão acabar recaindo sobre o custo de captação das empresas, o investidor vai capturar isso.
Nos primeiros dias após o governo encaminhar a MP para o Congresso, houve uma corrida para os papéis incentivados, baixando os spreads em cerca de 20 pontos-base, mas depois houve certa normalização, afirma a CIO da Bradesco Asset. “Continua sendo um movimento mais comprador, até pelos gestores de fundos, que vêm se preparando para uma maior entrada de recursos. A captação subiu na margem para todo mundo, mas nada gritante.”
Com uma desaceleração mais forte esperada para a economia na segunda metade do ano, o investidor tem que tomar muito cuidado com ativos de crédito, alerta Ricardo Campos, principal executivo (CEO) da gestora de fortunas Reach Capital. “É impressionante a quantidade de transações que não passam no nosso primeiro filtro e estão indo a mercado.”
Não está aparecendo mais operação relevante e as pessoa físicas estão inebriadas pelo ‘CDI menos’”
— Ricardo Campos
Com o cronômetro ligado para a taxação de títulos hoje isentos, a demanda está aquecida para esses papéis. Ele cita que a parcela de crédito nos fundos de renda fixa tem sido ampliada “brutalmente”, com gestoras dedicadas aumentando a exposição em títulos “high yield”, com maior risco e potencial de retorno.
“Não está aparecendo mais nenhuma operação relevante e as pessoas físicas estão inebriadas pelo ‘CDI menos’”, afirma Campos. “As empresas privadas ainda não podem emitir dinheiro como o governo, não deveriam ter menos risco e demanda infinita só porque ninguém quer ter chacoalhada na cota. É a chamada cota lisa, só sobe, até ter um evento de crédito.”
Para o CEO da Reach, comprar dívida privada agora é assumir um ativo caro, enquanto as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) e a bolsa estão em plena liquidação.
Para Fernando Donnay, sócio e gestor de fundos de fundos da G5 Partners, ainda há oportunidades em crédito, mas é preciso ter disciplina e diversificar teses e safras de investimentos de mais longo prazo. “Não dá para generalizar. A gente continua vendo prêmios na maior parte dos casos”, afirma. Ele alerta que, às vezes, as mesmas emissões têm cláusulas de garantia diferentes, o que influencia no retorno. “Fazer essa diferenciação é importante para não acabar caindo em ‘pegadinhas’. É preciso fazer um trabalho minucioso de alocação.”
Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/08/01/credito-privado-tem-oportunidades-mas-e-preciso-cautela.ghtml