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O que os spreads nos papéis de crédito corporativo sinalizam sobre retornos

Títulos com altas taxas de retorno podem não ser mais uma pechincha, mas têm preços justos As perguntas que os clientes fazem me permitem entender em tempo real o que os preocupa ou chama sua atenção. Nos últimos meses, essa pergunta é: “e os spreads?” Desde que as taxas de juro subiram de seu piso,…

Títulos com altas taxas de retorno podem não ser mais uma pechincha, mas têm preços justos

As perguntas que os clientes fazem me permitem entender em tempo real o que os preocupa ou chama sua atenção. Nos últimos meses, essa pergunta é: “e os spreads?” Desde que as taxas de juro subiram de seu piso, em 2022, houve um aumento no interesse por títulos de crédito. Mas a questão do momento é se os spreads de crédito atuais – a diferença entre as taxas de retorno de papéis de dívida corporativa em relação aos títulos de referência do governo – são adequados.

As taxas de retorno prometidas em instrumentos de crédito foram exíguas no período das baixas taxas de juro, de 2009 a 2021. No início de 2022, antes de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) embarcar em seu programa de alta de juros, os títulos “high yield” (de mais risco e retorno elevado) ofereciam taxas na faixa dos 4%.

À medida que 2022 avançava, os temores de um “pouso forçado” na economia levaram os investidores a buscar mais proteção contra riscos. O spread médio dos títulos “high yield” subiu para mais de 4%, o que empurrou as taxas de retorno como um todo para cerca de 9,5%.

Essas altas de 1 dígito, por si mesmas, teriam dado retornos saudáveis aos detentores dos títulos. Mas o aumento da demanda por crédito classificado como abaixo do grau de investimento e a diminuição das preocupações com a possibilidade de uma recessão fizeram os bônus se valorizarem, o que levou a um acréscimo no retorno total. Como resultado, a taxa de retorno até o vencimento, na média dos títulos high yield, hoje é de pouco mais de 7%.

As taxas de retorno dos spreads flutuam principalmente com as tendências de inadimplência e o que o investidor pensa sobre elas. Quando mais empresas ficam inadimplentes e os investidores esperam níveis de inadimplência ainda maiores no futuro, mais eles exigirão proteção na forma de spreads mais altos. O investidor cuidadoso precisa comparar essas opiniões com o que a realidade provavelmente será e avaliar se os demais investidores estão sendo otimistas demais ou muito pessimistas.

Digamos que um bônus high yield tenha taxa de 8% e uma nota do Tesouro com o mesmo vencimento oferece 5%, o que resulta em um spread de 3 pontos percentuais. Qual dos dois é melhor negócio? Tudo depende da probabilidade de inadimplência. Se o high yield tem uma chance de inadimplência de 4% a cada ano e é provável que você perca 75% do seu dinheiro em uma situação de inadimplência, sua perda de crédito anual pode ser estimada em 3% (75% de 4%). Se essas estimativas forem precisas, escolher um ou outro não fará diferença.

Assim, a questão-chave não é se hoje o spread é apertado ou não em relação a padrões passados. É se ele é suficiente para compensar as perdas de crédito que ocorrerão. Nesse aspecto, os investidores têm vários fatores a seu favor.

Questão-chave não é se spread é apertado, mas se é suficiente para compensar perdas que ocorrerão

O primeiro é que mesmo o spread apertado de hoje, de cerca de 2,9 pontos percentuais, seria suficiente para compensar a taxa histórica de perda de crédito em títulos high yield – de cerca de 2,3% ao ano. Segundo, essa taxa histórica de perda pode não ser relevante para o futuro, pois (a) ela foi desenterrada por crises idiossincráticas e (b) desde então bancos centrais e tesouros nacionais desenvolveram ferramentas para combater a recessão. Terceiro, a classificação de crédito média dos bônus high yield subiu de maneira substancial e hoje mais da metade do mercado tem classificação BB ou superior. O fator final é que os gestores ativos podem ser capazes de reduzir a incidência de inadimplência em suas carteiras. Por todas essas razões, acredito que a preocupação com spreads apertados de um ponto de vista histórico é muito exagerada.

Além disso, a ampliação do spread é um fenômeno de curto prazo, análogo à volatilidade nas ações. Se o spread da taxa de retorno se amplia, o resultado é uma queda de preço para os detentores de títulos. Mas isso é temporário, enquanto os pagamentos de juros mais altos são recebidos todos os anos. E quando o título chega ao vencimento (pressupondo que ele tenha bom desempenho), você é pago pelo valor nominal. Você terá recebido a taxa de retorno que esperava, independentemente das flutuações de preço ocorridas no meio tempo, o que inclui quedas relacionadas à ampliação do spread.

É claro que os investidores têm uma alternativa ao crédito. Faz pouco tempo, escrevi sobre avaliações de ações – em especial referenciadas no índice S&P 500 – e o potencial para uma bolha. Basta dizer que, a partir de relações de preço e ganhos elevadas como as de hoje, historicamente o S&P ofereceu retornos de dez anos muito limitados, e alguns bancos de investimento indicaram expectativas de retorno na faixa de 5% a 6% ou menos.

O nível atual dos yields oferecidos implica retornos do crédito maiores do que os do S&P 500 – e com retornos que são contratuais e, portanto, sujeitos a variabilidade e incertezas muito menores. Isso é verdadeiro apesar da contração do retorno provocada pela mudança do pessimismo para o otimismo nos últimos dois anos, e mesmo com os spreads apertados de hoje. O crédito não é uma pechincha hoje em dia, mas oferece retornos absolutos saudáveis e tem um preço justo em termos relativos.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/03/07/o-que-os-spreads-nos-papeis-de-credito-corporativo-sinalizam-sobre-retornos.ghtml

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