Mercado de crédito privado brasileiro tem ‘mini ciclos próprios’ sustentados por fluxo de entrada, avaliam analistas
Por Cris Almeida , Valor Investe — São Paulo
Os últimos meses de 2025 deve ser de corrida para o crédito privado. A proposta de taxação de 5% sobre os rendimentos de debêntures incentivadas e fundos isentos por parte do governo deve acelerar uma corrida por emissões ainda neste segundo semestre.
Isso é o que acredita os analistas Ana Rodela, do Bradesco Asset, Luiz Eduardo Portella, da Novus Capital, Fábio Oliveira e Camilla Dolle, ambos da XP Investimentos, que participaram da Expert XP neste sábado (26), em São Paulo.
“É um movimento que já começou. As empresas estão aproveitando essa janela para captar recursos com taxas inferiores às do próprio Tesouro Nacional. Uma distorção de mercado, mas compreensível diante da mudança iminente”, aponta Portella.
Eles veem o mercado de crédito privado brasileiro como “mini ciclos próprios”, sustentados por fluxo de entrada, spreads ajustados e um processo contínuo de ajustes. Durante essa dinâmica, houve uma mudança na seletividade entre empresas, sobretudo após o episódio da Americanas, que expôs fragilidades na estrutura de governança e levou o mercado a reavaliar os critérios de risco corporativo.
Essas incertezas deve afetar diretamente o horizonte de investimento das gestoras e manter os fundos de crédito privado como protagonistas, com foco em ativos corporativos de curto e médio prazo.
O investidor pessoa física, que até recentemente buscava maior exposição à renda variável, fundos multimercado ou criptomoedas, tem agora migrado com intensidade para produtos como CDBs, debêntures incentivadas, CRIs, CRAs e fundos de crédito privado. “Um movimento de retorno à renda fixa, mas com nova roupagem: mais sofisticada, mais pulverizada e, em certos casos, mais arriscada do que parece”, diz Rodela.
Se por um lado a atratividade da renda fixa aumentou, por outro os preços dos ativos passaram a incorporar retornos descolados da realidade de risco. O analista da XP observa que o mercado parece ter atingido um grau de maturidade em que as incertezas macroeconômicas já não se refletem com clareza. “Hoje o custo de alongar o prazo de um investimento não está adequadamente no retorno. As incertezas estão nos fundamentos, mas não nos preços”, alerta.
Esse comportamento cria, segundo Oliveira, uma oportunidade para quem consegue operar entre o curto e o longo prazo, mas também acende um sinal de alerta para o investidor comum. Com o risco comprimido, aumenta a necessidade de análise criteriosa sobre emissores, liquidez e estrutura jurídica dos ativos.
Dentro desse universo, os FIDCs, fundos de investimento em direitos creditórios, surgem como uma alternativa sofisticada e, ao mesmo tempo, desafiadora. Diferente das debêntures, que pressupõem emissores sólidos, os FIDCs são construídos com estruturas mais complexas, mas que antecipam o que pode dar errado. “Eles têm uma engenharia jurídica detalhada, pensada para suportar cenários de estresse. É justamente esse desenho que os torna atrativos, e também difíceis de analisar para o investidor não profissional”, explica Rodela.
O Brasil pode, de fato, estar vivendo um novo ciclo da renda fixa. Mas se antes isso significava apenas CDB e Tesouro Direto, agora o leque é mais amplo e mais técnico. Para o investidor pessoa física, o desafio será navegar esse mar de produtos com prudência.
Fonte: https://valorinveste.globo.com/objetivo/hora-de-investir/noticia/2025/07/26/expert-xp-vem-ai-a-corrida-do-credito-privado-antes-de-nova-taxacao.ghtml