Pesquisa do BC indica que, no último trimestre de 2004 e no primeiro de 2025, oferta de crédito entrou em processo significativo de desaceleração. Mas medidas de expansão do consignado vão na direção oposta, mostrando mais uma vez objetivos contraditórios na política econômica do governo.
A Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC), divulgada pelo Banco Central (BC) na quinta-feira passada (13/2), mostrou claramente que o aperto nas condições financeiras da economia brasileira – do qual o ciclo de alta da Selic é um dos componentes – está “funcionando” no mercado de crédito, que sinalizou retração em quase todas as suas modalidades.
O “funcionando”, devidamente entre aspas, refere-se ao fato de que, para tentar fazer com que a inflação convirja para a meta, o BC efetivamente quer esfriar a economia, e a piora das condições de crédito é uma das facetas desse processo.
A consultoria LCA 4intelligence estendeu até o início da série o indicador de oferta de crédito da PTC recentemente divulgada, o que mostra que, numa perspectiva mais longa – precisamente, desde o primeiro trimestre de 2011 -, os sinais de retração de crédito no quarto trimestre de 2024 e no primeiro de 2025 são efetivamente muito expressivos.
No caso do quarto tri de 2024, os respondentes fizeram avaliações; para o primeiro tri de 2025, informaram suas expectativas.
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Para cada item da pesquisa sobre oferta e demanda de crédito, os respondentes (instituições financeiras) fazem avaliações que vão de -2 (o pior possível) a 2 (o melhor possível). A escolha é entre -2, -1, zero, 1 e 2, em que o zero, obviamente, é o ponto neutro. As consultas são sobre diferentes fatores que afetam a oferta e a demanda de crédito, em quatro categorias de crédito: consumo, habitacional, grandes empresas e MPMEs (médias, pequenas e micro empresas).
Para o quarto trimestre de 2024, relativamente à oferta de crédito, os índices de todas as categorias, com exceção de consumo (+0,07), foram negativos. Os números foram os piores desde 2023 (diferentes trimestres daquele ano, dependendo da categoria). A média ponderada das categorias no quarto trimestre do ano passado (-0,03) foi a pior desde o terceiro trimestre de 2023 (-0,05).
Quando se analisa as respostas sobre oferta de crédito para o primeiro trimestre de 2025 (que, no caso, ainda são expectativas), o índice ponderado de todas as categorias, de -0,38, é a pior leitura desde o primeiro trimestre de 2023 (-0,44). O mesmo ocorre com a categoria de grandes empresas (-0,55 nas expectativas para o primeiro trimestre deste ano, e -0,57 no 1º tri de 2023); e a categoria de consumo (-0,27 e -0,44, respectivamente).
Mas a coisa piora no caso das MPME e, especialmente, no crédito habitacional. Para as primeiras, a leitura de -0,38 do primeiro trimestre de 2025 é a pior desde o segundo trimestre de 2020 (-0,53), em plena pandemia. Já o -0,86 das expectativas das condições de crédito do setor habitacional para o primeiro trimestre de 2025, se confirmado, será a pior avaliação do segmento na PTC desde que o indicador começou a ser divulgado, para o primeiro trimestre de 2011.
Essa piora do crédito habitacional tem algumas causas bem conhecidas. Em novembro, a Caixa Econômica Federal introduziu novas regras mais restritivas para o financiamento de imóveis, como entrada maior, financiamento de uma parcela menor do valor do imóvel e valor máximo para o imóvel financiado. As regras aplicam-se a novos imóveis financiados.
A tendência de queda do saldo das cadernetas de poupança é um fator limitativo do funding para empréstimos da Caixa, que domina esse mercado – e a altíssima taxa de juros, da qual o aplicador pode se beneficiar em diversas modalidades de fundos e títulos, evidentemente torna a caderneta de poupança menos competitiva.
De qualquer forma, como notado no início desta coluna, o crédito mais restritivo faz parte da receita que a política econômica – e com destaque a política monetária – tenta aplicar na economia brasileira hoje, para desacelerar a atividade e reduzir a inflação, numa tentativa de “pouso suave”.
Nesse sentido, nota-se que as diversas áreas do governo continuam a “bater cabeça” e trabalhar em sentidos opostos, com alguns freando enquanto outros aceleram. Um exemplo típico é a tentativa do governo de ampliar o crédito consignado, com a extensão da modalidade para 40 milhões de trabalhadores do setor privado com carteira assinada; e a ampliação do prazo do crédito consignado do INSS de 84 para 96 meses, afetando mais de 15 milhões de beneficiários.
Tentar evitar a desaceleração necessária de uma economia que opera superaquecida vai apenas trazer juros e inflação ainda mais altos.
Fonte: https://www.estadao.com.br/economia/fernando-dantas/a-freada-no-credito/

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